Monday, September 17, 2007

a tempestade

A garganta já começava a arranhar quando acendi o último cigarro. Olhei para o relógio do carro e reparei que passava das 5 da manhã. Tínhamos passado mais de três horas refugiados naquele carro. A chuva já tinha parado, mas não sei precisar há quanto tempo. Tive a sensação que acordava de um sonho onde éramos as duas únicas personagens. Conversámos. Conversámos até à exaustão. Falámos como dois desconhecidos falam quando sentem a vontade crescente de se descobrirem um ao outro. Não houve um assunto proeminente. Falámos sobre a vida, filosofias, esperanças e gostos, pormenores que tínhamos em comum. O único elemento constante na conversa foi a franqueza, como se o que fosse dito naquela noite nunca fosse ter qualquer tipo de consequência no nosso futuro.
- Doem-me os olhos. - disseste - Parece que tenho areia entre o olho e a pálpebra.
O céu começou a clarear. Rodei a chave na ignição, e acelerei.
Continuámos a viagem.